O real entrou em circulação há exatos 20 anos, deixando para trás uma inflação de três dígitos e o consequente troca-troca de moedas. Com a estabilização da economia, alcançada por meio de um conjunto de mudanças que recebeu o nome de Plano Real, o brasileiro experimentou por um tempo a sensação de ver seu dinheiro valendo mais.
“Era muita
inflação, e eram muitos zeros. Não haveria caixa registradora que
conseguisse registrar tantas casas decimais se o real não tivesse sido
criado”, disse Davi Simão Silber, professor de economia da Universidade
de São Paulo (USP). Antes do real, os preços disparavam de um dia para o
outro e a variação média chegava a 100% em um mês.

Apesar
do trabalho que deu para o brasileiro se acostumar com a nova moeda –
muitos usavam calculadoras para transformar a moeda anterior (cruzeiro
real) em real e ter uma referência de quanto o produto valia –, o plano
deixou como herança a possibilidade de se planejar gastos.
“O
brasileiro aprendeu o verdadeiro valor do dinheiro. Soube quanto ganhava
efetivamente e o real valor dos bens que poderia adquirir. Conseguimos
entender os juros no Brasil e a necessidade de se ter metas claras de
combate à inflação. A capacidade de compra aumentou, determinada pela
estabilidade da economia. E o mais importante é que durante os anos de
estabilidade, todo brasileiro começou a planejar o futuro, elaborar um
planejamento financeiro de longo prazo”, diz Fabiano Guasti Lima,
pesquisador do Instituto Assaf.
O que dá para comprar com R$ 1?
A
hiperinflação foi extinta na década de 1990, mas os preços continuaram
subindo ao longo dos anos, e o R$ 1, que antes comprava dez pãezinhos ou
até mesmo um quilo de frango, hoje não paga muito mais que um punhado
de balas e chicletes.
É difícil achar produtos por R$ 1. No
hortifruti, é possível comprar pouca coisa: algumas laranjas, cebolas ou
uma maçã. Na padaria, consegue-se comprar menos de três pães, com o
quilo beirando os R$ 8. Entre os industrializados, nada muito saudável
fica dentro desta faixa de preço, a não ser sucos em pó, gelatinas e
refrigerantes. Procurando bem, encontra-se um chocolate ou biscoito em
promoção, garrafas de água de 300 ml ou uma lata de ervilha.
Considerando
a inflação acumulada de julho de 1994 até maio deste ano, de 359,89%
pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o poder de compra da
moeda brasileira caiu perto de 80%. Assim, R$ 1 de 20 anos atrás vale
agora R$ 0,21, bem como R$ 10 daquela época foram reduzidos a R$ 2,13.
Quando comparada a quantia de R$ 100 em 1994 e neste ano, a diferença
chega a R$ 78,70. Os cálculos são do matemático José Dutra de Oliveira
Sobrinho.
Como está a inflação hoje
Segundo
Silber, professor da USP, o país hoje convive com uma inflação que não
pode ser considerada baixa, mesmo que fique longe da alta de preços do
início dos anos 90.
“A literatura considera alta [inflação] quando
passa de 10% ao ano. Baixa é de até 3%. O Brasil está no meio do caminho
[cerca de 6%]. Hoje, a inflação neste país é de arrocho salarial
[quando os reajustes de salário não acompanham a inflação]. Se tirar os
preços que o governo controla, como de ônibus, gasolina e energia, a
inflação seria desconfortável. E o pessoal de mais baixa renda é o que
mais sente, não consegue mais comprar carne todo dia”, afirma.
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