Roça
com o que restou do milho e feijão plantados no início do ano em Acauã,
situação que pode ser vista em todo o semiárido piauiense e que
aprofunda a dependência do sertanejo dos programas e ações paliativas do
governo
Rodrigo
Manoel da Silva mora com a esposa, uma filha de dez meses, a mãe e um
irmão na localidade Angical, zona rural de Acauã, 472 quilômetros ao sul
de Teresina. Acauã fica na região de Paulistana (470 quilômetros ao sul
de capital), uma das regiões de seca mais severa no Estado. É uma das
cidades mais pobres do Piauí, escolhida dez anos atrás pelo governo
federal para piloto do programa Fome Zero, junto com Guaribas.
Rodrigo
trabalha na roça, assim como Denilson Coelho Francisco, que reside a 50
quilômetros dali, na localidade Batalha, zona rural de Queimada Nova,
na região de São João do Piauí. Denilson tem três filhas pequenas - de
7, 5 e 2 anos. Um pouco mais adiante em direção ao sul, no povoado Onça,
em São Raimundo Nonato (525 quilômetros ao sul da capital), reside a
dona de casa Vanda da Silva. Ela mora com o marido e três filhos - dois
rapazes e uma moça.
Rodrigo, Denilson e Vanda são
personagens idênticos de uma mesma realidade do semiárido piauiense - o
sertanejo que perdeu tudo ou praticamente tudo com a seca e vive hoje
dependente quase que exclusivamente do que recebe dos programas de
distribuição de renda do governo federal e da água dos carros-pipas
contratados pelo Exército. Rodrigo ganha R$ 102,00 por mês do Bolsa
Família. Não recebe o Seguro Garantia Safra, programa criado para
amenizar as perdas dos lavradores, porque faltou o contrato de comodato
da terra onde trabalha. A mãe é aposentada.
Denilson ganha R$
330,00 de Bolsa Família. De dezembro de 2013 a abril passado, recebeu R$
152,00 do Garantia Safra. Vanda recebe R$ 282,00 do Bolsa Família e
ganhou os R$ 760,00 do Garantia Safra divididos em cinco parcelas. O
benefício, pago aos lavradores que perderam o que plantaram com a seca,
deve ser retomado pelo governo nos próximos meses - é o que esperam os
três.
A situação deles é igual a milhares de sertanejos que
vivem no semiárido piauiense, a região mais seca do Piauí, que engloba
156 municípios do Estado e é castigada sem trégua pela estiagem desde
2011. A falta de chuvas deixou um rastro de pobreza que só é aplacada
pelo Bolsa Família, os carros-pipas, o Garantia Safra e o Bolsa
Estiagem, outro benefício criado pelo governo para atender quem não tem
direito ao Garantia Safra.
Esses programas amenizam o
sofrimento do homem do campo, aumentam a circulação de dinheiro nos
municípios mais pobres e geram novos negócios no sertão. Mas também
criaram uma dependência extrema do sertanejo em relação ao Estado. Sem a
ajuda do governo e o dinheiro do Bolsa Família, provavelmente já
estaria ocorrendo mortes por falta d'água e de alimentos no sertão. "É
uma situação muito grave!", resume a secretária estadual da Defesa Civil
no Piauí, Simone Pereira. Para ela, a dependência das famílias dos
programas de distribuição de renda agrava a miséria tão comum ao
sertanejo. "A população do semiárido não dispõe de programas que
garantam a autossuficiência na produção. A educação é ruim, a saúde é
precária, a falta de chuvas faz com que percam toda a lavoura. Não têm
perspectiva de futuro", desabafa.
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