por Miguel Dias Pinheiro, advogado
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Em Minas Gerias, a história registra que “o aecismo que se formou foi porque Aécio tinha uma extrema capacidade de aglutinar forças antagônicas. Dava poder a partidos de oposição e conciliava famílias rivais pelo interior. Depois de sua experiência como deputado federal, levou a pequena e baixa política do baixo clero do Congresso para o Estado de Minas. Essa estrutura lhe garantiu por muitos anos um status de intocável”, analisa o cientista político Rudá Ricci.
Jovem, digo eu, mas com sabedoria política genética herdada, além da experiência adquirida na Câmara dos Deputados com projeção nacional, “depois de Tancredo, Aécio foi o primeiro representante do executivo mineiro com envergadura de presidenciável”, assevera Bruno Reis, professor de ciências políticas da Universidade Federal de Minas Gerais.
No reduto mineiro, por suas proezas políticas, Aécio atingiu um “pedestal de semideus”, diz Bruno. Primeiro, uniu PSDB e PT para emplacar o desconhecido Márcio Lacerda, do PSB, na prefeitura de Belo Horizonte. Em seguida, garantiu a eleição de Antonio Anastasia, sem nenhum lastro na política, como seu sucessor no governo enquanto se lançava ao Senado. Segundo o cientista, “as conquistas que obteve em Minas subiram um pouco à cabeça de Aécio, que cedeu à tentação de tirar um nome do bolso do colete para se manter influente no governo”.
Antes mesmo das delações da Odebrecht e da JBS, Aécio já amargava um grande desgaste político em Minas Gerais, isso logo após a eleição presidencial de 2014. O senador tucano abandonou suas bases e acirrou os ânimos políticos e econômicos no governo Dilma Rousseff, iniciando o esfacelamento das bases e deteriorando o culto ao “aecismo”.
“Aécio sempre foi um insider da política, de postura centrista. Ao partir para o ataque contra o PT, ele saiu de seu hábitat e fez do impeachment a última cartada pela presidência. Mas, como tinha retaguarda vulnerável, acabou se expondo demais” – avalia o professor Bruno Reis.
Nas investigações do jornal El País, a corrida presidencial deixou feridas jamais escancaradas em seu berço eleitoral. Contando com a mão de ferro da irmã Andréa Neves, que desempenhou o papel informal de articuladora política durante o governo em Minas, Aécio domava a grande imprensa mineira de acordo com seus interesses. Vários jornalistas mineiros despedidos durante a proeminência do “aecismo” atribuem a demissão a exigências de Andréa Neves. De acordo com o Sindicato de Jornalistas de Minas Gerais, ela “exercia forte controle sobre as publicações no estado e perseguia críticos de Aécio”. Foi longe demais!
Como Senador da República, seu “inferno astral” começa mesmo em 2015, quando o jornal Folha de S. Paulo publicou um depoimento de delação de Carlos Alexandre de Souza Rocha, que nas investigações da Operação Lava Jato é investigado como um dos funcionários do doleiro Alberto Youssef, que afirmou ter feito entrega de trezentos mil reais a um dos diretores da UTC, Antonio Carlos D'Agosto Miranda, e que o valor era destinado ao senador mineiro.
O ex-senador Delcídio do Amaral acusou Aécio de ter recebido vantagens ilegais na estatal de Furnas. Dimas Toledo, ex-diretor de engenharia da empresa, era quem operava o esquema de corrupção e teria, segundo Delcídio, "fortes vínculos" com Aécio. O esquema além de beneficiar o senador abastecia também o Partido dos Trabalhadores e o deputado José Janene (PP). O senador também foi acusado por um executivo da Odebrecht de montar um esquema de propina enquanto ele era governador de Minas.
Em abril de 2017, o “tiro de misericórdia”. O relator da Lava-Jato, ministro Edson Fachin, autorizou a investigação das denúncias contra o senador e o afastou do mandato.
No dia 17 de maio de 2017, após uma publicação do jornal O Globo, deflagraram-se as delações premiadas dos irmãos Joesley e Wesley Batista, empresários da JBS, na qual há uma gravação de 30 minutos com Aécio Neves pedindo dois milhões de reais de propina. Toda a operação de recebimento do dinheiro foi filmada e rastreada pela Polícia Federal. O fim da picada!
Ufa! Decepcionante! Sinceramente, pela sua história, pelas circunstâncias em que foi concebido e fundado, pelas lideranças políticas históricas por todos os estados da federação, inclusive no Piauí, pelas campanhas eleitorais memoráveis, aplaudidas e reconhecidas, o PSDB não merecia o procedimento vergonhoso de Aécio. Que acabou “ruindo” e “trincando” a boa imagem tucana. Seu declínio, sem dúvida, deixa uma “ferida dolorida”, uma “cicatriz” na face eleitoral do partido e um vácuo político inconcebível.
Aécio envergonha a história do PSDB. E por isso a “idolatria” passou. A tolerância chegou ao limite.
A propósito, o Lula todos conhecem seu “telhado de vidro”. Mas, o Aécio foi demais!
Fonte: JL
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