Decisão liminar de Luiz Fux para suspender investigação foi tomada até que o relator do caso no STF, Marco Aurélio, se pronuncie, após recesso do Judiciário

Flávio Bolsonaro e Fabrício Queiroz (Mateus Bonomi/Agif/Folhapress/SBT)
O ministro Luiz Fux, vice-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF),
suspendeu temporariamente nesta quarta-feira o procedimento de
investigação criminal que apura transações financeiras atípicas de Fabrício José Carlos de Queiroz, ex-motorista do senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro. A decisão liminar, em sigilo de Justiça, foi tomada em uma reclamação impetrada por Flávio na Corte.
Conforme apurou VEJA, Fux disse, em seu despacho, que cabe ao relator
original do caso, Marco Aurélio Mello, decidir se as suspeitas
envolvendo o ex-assessor devem ou não tramitar no tribunal. Isso porque
Flávio Bolsonaro, autor do recurso à Corte, já foi diplomado senador e
alega que tem direito a foro privilegiado em Brasília. O filho do
presidente eleito é deputado estadual, mas foi eleito senador com mais
de 4 milhões de votos e recebeu o diploma da nova função pública em 18
de dezembro. Como senador eleito, ele argumenta que o caso deverá
tramitar em Brasília, e não mais no Rio de Janeiro.
Como o recesso do STF termina no final de janeiro, Fux entendeu que
cabe a Mello decidir sobre o prosseguimento ou não das apurações sobre o
caso. Por ora, as investigações permanecerão suspensas até Marco
Aurélio Mello se debruçar sobre o assunto.
As alegações de Flávio Bolsonaro
em favor de seu direito ao foro privilegiado esbarram em uma recente
decisão do próprio STF, que limitou o alcance do foro por prerrogativa
de função. Segundo o tribunal, o foro para deputados e senadores é
restrito apenas a casos em que parlamentares são acusados de crimes
cometidos durante o exercício do mandato e que tenham relação com o
próprio mandato. Ou seja: crimes anteriores ficam sem proteção especial –
como as suspeitas de movimentação financeira atípica, assim como crimes
sem conexão com a atividade parlamentar, como um homicídio passional,
por exemplo. A favor de Flávio, por enquanto, está o entendimento do
tribunal, quando restringiu o foro, de que cabe à própria Corte avaliar
quais processos ficam e quais descem a outras instâncias. Como deputado
estadual, Flávio Bolsonaro tinha foro no Tribunal de Justiça do Rio e em
um Tribunal Regional Federal, a depender do tipo de crime a ser
apurado.
O MP-RJ afirmou por meio de nota que, como a investigação e o
despacho de Fux estão sob sigilo, “não se manifestará sobre o mérito da
decisão”.
As investigações do Ministério Público fluminense foram abertas a
partir do relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras
(Coaf) que aponta 1,2 milhão de reais em transações atípicas em uma
conta de Fabrício Queiroz entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017, valor
incompatível com a renda dele. Embora tenha sido o autor da ação que
levou à decisão de Fux, Flávio Bolsonaro não é investigado nos
procedimentos abertos pelo MP.
Entre as movimentações consideradas suspeitas pelo Coaf estão um cheque de 24.000 reais de Queiroz à primeira-dama, Michelle Bolsonaro,
e pagamentos feitos ao ex-motorista por assessores e ex-assessores do
gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).
Conforme VEJA revelou, sete servidores que trabalharam com o filho do
presidente fizeram transferências eletrônicas à conta de Queiroz que
somaram 116.556 reais no período analisado pelo Coaf.
Tanto o presidente quanto Queiroz, em entrevistas, afirmaram que o
cheque a Michelle é parte do pagamento de uma dívida de 40.000 reais do
ex-motorista com Bolsonaro. Segundo o pesselista, o ex-assessor assinou
dez cheques de 4.000 reais, depositados na conta da primeira-dama porque
o presidente “não tem tempo de sair”.
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