terça-feira, 28 de janeiro de 2020

BRASIL Análise: o PT e os evangélicos, difícil dar certo

Análise: o PT e os evangélicos, difícil dar certo
Lula quer aproximar seu rebanho dos religiosos, mas para isso o partido teria de deixar de ser o que é BRASIL

Lula em palanqueLeonardo Benassatto/Reuters 07.04.2018

Lula, o poderoso chefão do PT, está em campanha para que seu partido se aproxime dos evangélicos. Falou disso em duas entrevistas neste fim de semana. Olhou o resultado das últimas eleições, mostrando o apoio maciço desse eleitorado a Jair Bolsonaro; olhou a recente pesquisa do Datafolha, que aponta que os evangélicos já são 31% da população brasileira; e concluiu que se o PT não conseguir se aproximar desses fiéis, terá a vida cada vez mais complicada daqui em diante.

Vai ser difícil Lula conduzir o seu rebanho nessa tarefa. Quando se trata de religião, os quadros petistas estão muito mais próximos de Gilberto Carvalho e Marilena Chauí do que de Lula, que entre seus muitos defeitos não conta o de menosprezar o homem comum e os recursos, mundanos ou espirituais, de que ele se vale para atravessar, todos os dias, este nosso vale de lágrimas.

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Marilena Chauí é o lado “ilustrado” do petismo, aquele que acredita que a religião não deve ter espaço no mundo contemporâneo. Essa grande mulher do povo, que como tantos operários e lavradores (brincadeirinha) dedicou a vida a estudar Baruch Spinoza e escrever livros de culinária nas horas vagas, tem da religião conceito ainda pior que o de Karl Marx, que a considerava um ópio. Marilena já declarou ter nojinho da classe média, o que a põe ao lado de filósofos do século XVIII como Voltaire e Diderot na sua anti-religiosidade: eles também desprezavam a massa, a “canaille”, como diziam, pelo respeito devotado ao cristianismo.

Gilberto Carvalho é o lado clerical do petismo. Representa aqueles que têm no socialismo uma religião secular, no Estado um deus e no partido uma igreja. Cardeal do PT, ex-ministro dos governos Lula e Dilma, Carvalho é aquele que em 2012, no auge do poder petista, disse que havia chegado a hora de “fazer uma disputa ideológica com os líderes evangélicos pelos setores emergentes”. A guerra santa do petismo é travada contra qualquer ente que se oponha à hegemonia do partido.

Lula quer que o PT supere os sentimentos exemplificados por Chauí e Carvalho. Para quê? Repetindo, ele parece ter de fato uma percepção humana daquilo que a religião e as igrejas podem representar para as pessoas - além de orientação espiritual, organizações sociais eficientes que oferecem ajuda e proteção em diversas circunstâncias da vida real onde o Estado está ausente. Ainda assim, é transparente como a água do batismo que seu propósito é instrumentalizar a fatia evangélica do eleitorado. Difícil dar certo.

* Carlos Graieb é jornalista e consultor. Foi secretário de comunicação do Governo do Estado de São Paulo (2017-2018)

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